Uma parceria improvável: vinho e cannabis

No Napa Valley, principal região vinícola dos EUA, produtores começam a misturar vinho com a maconha. Há poucos rótulos ainda, mas a prática é polêmica, com viticultores mais tradicionais se posicionando contra o cultivo da erva próximo aos vinhedos

Garrafas de “House of Saka” que tem infusão de

Desde que o cultivo da maconha foi legalizado na Califórnia, em 2017, uma linha muito tênue divide viticultores dos plantadores da erva na região. A ponto de existir, ainda que em produção pequena e restrita apenas a esse estado americano, vinhos de maconha.

O pioneiro é a marca “No Label Private Reserve”, difícil de ser encontrado, vendido pelo equivalente a US$ 400 a garrafa, segundo o site Wikileaf. Há outros, com preços bem mais em conta, como o “House of Saka”, nas versões rosé, branco e espumante e com 5 gramas de THC, o princípio ativo da cannabis, por taça. A garrafa é vendida por US$ 45.

No “Rebel Coast”, que tem o vinho de maconha em latinhas, o seu fabricante informa que a bebida tem 10 gramas de THC. No branco, o destaque são os aromas cítricos, já que ele é elaborado com a uva sauvignon blanc.

Essas bebidas são produzidas com uma infusão da erva no vinho, em um processo que, ao mesmo tempo, remove o álcool do líquido final. Numa explicação simplificada, no processo químico de sua elaboração, o óleo de cannabis é quebrado em minúsculas partículas, que são solúveis em líquidos, como o vinho. Quando bebido, a cannabis é absorvida rapidamente pelo organismo, informam seus fabricantes.

Além disso, esses vinhos têm menos calorias do que um tradicional, o que atrai o público preocupado com a forma física. Uma taça do “Rebel Coast” tem 35 calorias contra a média de mais de 100 calorias de um vinho tradicional.

Isso é visto como uma maneira de atrair novos consumidores ao vinho, como defende Stephanie Honig, sócia da vinícola Honig Vineyard and Winery e presidente da Napa Valley Cannabis Association.

Há semelhanças entre o produção de uvas e de cannabis. Ambos são produtos de origem agrícola e trazem aromas e sabores distintos conforme o local em que são cultivados, principalmente quando a elaboração é artesanal.

Produtor de vinhos e de cannabis orgânicas em Sonoma, na Califórnia, Phil Coturri afirmou, ao jornal The New York Times, que o cultivo da cannabis artesanal vem crescendo, com novas variedades, e que, conforme a sua região de cultivo, há ervas com notas mais exóticas e outras mais verdes. Há também as mais frescas e as curadas, assim como o vinho tem os seus estilos.

O diretor de cinema Francis Ford Coppola, por exemplo, tem uma marca de cannabis, a The Grower’s Series, mas sem ligação com o vinho (ele também é produtor de brancos e tintos). Em edições limitadas, sua erva, sempre orgânica, traz variedades diferentes de flores de cannabis, selecionadas manualmente (assim como ocorre com a colheita das uvas).

No lançamento da primeira edição, em 2018, Coppola declarou para o site The Wine Business. “Vinho e cannabis são duas dádivas antigas e generosas da Mãe Natureza, ligadas por muito cuidado, terroir e temperança.”

Mas há vários produtores de vinho que se incomodam com essas associações. Primeiro, alegam que a marca Napa, tão cara para o mundo dos brancos e tintos, seja usada também para a cannabis, desvirtuando a sua imagem.

Além de “manchar” a marca, a alegação é que o cultivo da maconha pode prejudicar o das vinhas, por uma série de impactos ecológicos. Há desde o cheiro ao redor das plantações, muitas próximas aos vinhedos, até o consumo excessivo de água que a cultura da erva exige.

 

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